sábado, 30 de agosto de 2014

The cultivation of hatred

E começa o terceiro livro da série que especula sobre a experiência burguesa desde a Rainha Vitória a Freud: O cultivo do ódio. Este tem 536 páginas, o maior até então, e procura encaixar agora o contexto do "ódio", seguindo o primeiro livro que discursa sobre os sentimentos burgueses, principalmente o amor e o segundo livro que aborda questões mais eróticas, vulgo sexo. "Ódio" pois a escolha da palavra é emocional, uma vez que o viés do livro é psicanalítico e o autor aprecia muito o trabalho de Freud. Poderíamos entender "ódio" nesse contexto como "rivalidade, disputa". Logo de cara o autor propõe a questão: a humanidade tem a história preenchida de vários sentimentos, mas um é onipresente, a raiva. Seria, portanto, tal sentimento algo intrínseco do ser humano? Alguma herança animalesca que nos impede de fazer escolhas que não envolvam o "passar por cima dos demais" e "deixá-los ao pó"? O livro assume que sim, embora dê outras ideias, para poder seguir o seu objeto de estudo que é a motivação de tantas turbulências na burguesia do século XIX. Ainda li muito pouco do livro, mas ele parece ser o que mais promete. Gay me deixou com uma Introdução fantástica sobre os duelos na Alemanha no início do século XIX e no primeiro capítulo deixou os três primeiros temas a serem discutidos, pois são esses três que motivaram os acontecimentos de disputa do século XIX 1) a competitividade; 2) como enxergar o Outro, aquele que é diferente de mim e, por isso, inferior; e 3) a masculinidade. A burguesia do século XIX teve todos os seus atos, os seus álibis, combinados à ciência - esta autorizou e inventou o que quer que fosse necessário para validar o ódio de quem quer que fosse. Um livro que promete discutir eugenia, ciência, construção de inferioridade social, políticas de higienização e apontar batalhas tanto no âmbito territorial como no psicológico deveria ser lido por todos! "Por séculos, a convicção de que os cristãos tinham um chamado divino para converter o mundo possuía grandes credores, que montavam cruzadas e lhes davam suas rezas, seu dinheiro, mesmo suas vidas; isto ganhou nova força no século XIX conforme missionários espalharam a palavra pelo globo em ainda maiores números. Mas as razões mais interessantes pelas quais o século XIX avançou alimentando o narcisismo coletivo foram modernas. Ele injetou o que julgava justificativas científicas para o ódio e desprezo pelos outros. O que veio a dominar essas justificativas para a agressividade foi o argumento de raça".

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