quinta-feira, 4 de abril de 2013

A Gaia Ciência - Nietzsche

Hoje eu não vim falar dele especificamente, Friedrich Nietzsche, mas desse livro fenomenal - como todos os outros são, PORÉM HOJE é desse que vou falar. Algumas pessoas sabem que esse filósofo tem importância direta na minha vida, em uma relação que é muito próxima e também muito transformadora. Explico: quando comecei a lê-lo já havia muita coisa em comum, evidentemente que nenhuma leitura é de mão única e trocamos muita informação e, assim, os livros dele também me transformaram. Mas bom, A Gaia Ciência é um livro publicado em 1882 e é considerado um dos livros mais importantes de Nietzsche (hoje eu entendo porquê). De acordo com o próprio livro: "Três coisas particularmente associadas a Nietzsche também aparecem nesse livro: a proclamação da morte de Deus, a ideia do eterno retorno e a mítica figura de Zaratustra". Por favor, não interpretem ao pé da letra - com intensos julgamentos - nem o título do livro nem nenhum dos conceitos citados acima, não é nada do que provavelmente pensaram. Vou dividir aqui um dos aforismos, que é o estilo usado por Nietzsche na maior parte da obra, que me pareceu bom pra que os leitores do blog se interessem pelo livro (ou não): "42: Trabalho e Tédio. - Buscar trabalho pelo salário - nisso que todos os homens dos países civilizados são iguais; para eles o trabalho é um meio, não um fim em si; e por isso são pouco refinados na escolha do trabalho, desde que proporcione uma boa renda. Mas existem seres raros, que preferem morrer a trabalhar sem ter prazer no trabalho: são aqueles seletivos, difíceis de satisfazer, aos quais não serve uma boa renda, se o trabalho mesmo não for a maior de todas as rendas. A esta rara espécie de homens pertencem os artistas e contemplativos de todo gênero, mas também os ociosos que passam a vida a caçar, em viagens, em atividades amorosas e aventuras. Todos estes querem o trabalho e a necessidade, enquanto estejam associados ao prazer, e até o mais duro e difícil trabalho, se tiver de ser. De outro modo são de uma resoluta indolência, ainda que ela traga miséria, desonra, perigo a saúde e a vida. Não é o tédio que eles tanto receiam, mas o trabalho sem prazer; necessitam mesmo de muito tédio, para serem bem-sucedidos no seu trabalho. Para o pensador e para todos os espíritos inventivos, o tédio é aquela agradável 'calmaria' da alma, que precede a viagem aventurosa e os ventos joviais; ele tem de suportá-la, tem de aguardar em si o seu efeito: - é justamente isso o que as naturezas menores não conseguem obter de si! Afastar o tédio a todo custo é vulgar: assim como é vulgar trabalhar sem prazer. Algo que talvez distinga os asiáticos, em relação aos europeus, é o fato de serem capazes de uma mais prolongada e mais profunda calma do que estes; mesmo os seus narcóticos agem lentamente e exigem paciência, ao contrário da repulsiva rapidez do veneno europeu, o álcool".

2 comentários:

  1. Carolina, de fato Nietzsche é Nietzsche. E nós o que somos? O ser para Nietzsche, sabe-se, é uma ficção, mas ainda assim vale a pergunta, pois não somos Nietzsche, ainda que dele sorvamos (a palavra é péssima) uma nitidez dificilmente encontrada. Somos os desencontrados de nós mesmos, os ansiosos, aqueles que não admitem o tédio, a espera, a calmaria 'selvagem' de um turbilhão que é a vida. Calmaria, aqui, quer dizer, entonação de ser próprio, de vir a ser o que somos, nada de pasmaceira abúlica, nada de contemplação desitenressada, abstinência de vida; pelo contrário: vida fazendo-se vida, a cada passo, cada de repente, sem causa, sem por quê, sem para onde. Nietzchie não é um edificante, mas uma dinamite saturnal. Alguém que nos lança e enlaça, um intruso bem vindo. Aproveitemos!

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  2. http://witheringtime.blogspot.com.br/

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